Refugiado numa caverna, David vivia um dia muito difícil. Estava a ser perseguido por inimigos que ele reconhecia como "mais fortes" do que ele. A adicionar a essa aflição, estava o facto de se sentir só, desprotegido, abandonado. E, em oração, ele desabafa:
"Olhei para a minha direita, e vi, mas não havia quem me conhecesse; refúgio me faltou, NINGUÉM CUIDOU DA MINHA ALMA." (Salmo 142:4).
Milhares de anos depois, encontramos hoje pessoas que, "nas suas cavernas" precisam que alguém venha e cuide da sua alma. É um clamor ao qual os nossos ouvidos devem estar sensíveis, entendendo que para isso fomos chamados. Esta necessidade encontra-se expressa em diferentes livros da Bíblia, por homens de Deus. Consideremos alguns:
Ezequiel
No tempo deste profeta, Deus chama a atenção a pastores que não se preocupavam com a condição das suas ovelhas. Viviam alheios às suas fraquezas, doenças, fracturas e até aos momentos em que se perdiam do rebanho. E Ele aponta claramente para essa falha no cumprimento do ministério: "A fraca não fortaleceste, e a doente não curaste, e a quebrada não ligaste e a desgarrada não tornaste a trazer, e a perdida não buscaste..." (Ezequiel 34:4).
E a dor no coração de Deus é tão grande face a este desleixo, que assegura que Ele próprio o fará: "Porque assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu, eu mesmo, procurarei pelas minhas ovelhas, e as buscarei. (…) A perdida buscarei, e a desgarrada tornarei a trazer, e a quebrada ligarei, e a enferma fortalecerei; mas a gorda e a forte destruirei; apascentá-las-ei com juízo." (Ezequiel 34:11,16).
Pedro
De igual modo, o apóstolo Pedro chama a atenção para a forma como se apascenta o rebanho do Senhor. Com cuidado, numa atitude voluntária e de ânimo pronto. "Apascentai o rebanho de Deus, que esta entre vos, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto." (I Pedro 5:2).
Paulo
O apóstolo vivia intensamente cada dificuldade dos crentes que estavam a seu cargo, numa grande sensibilidade para com o sofrimento deles. Cada dor, cada tropeço, era sentido de uma forma tão próxima de si, como se estivesse a acontecer dentro de si mesmo. Por isso, ele referiu: "Onde é que há alguém doente, que eu não me sinta doente com ele? Onde é que alguém tropeça sem que eu sofra também com isso? (II Coríntios 11:29). (Tradução: "A Boa Nova"). Ele esperava a mesma solicitude por parte dos seus colaboradores. E confiava na dedicação de Timóteo: "Espero no Senhor Jesus que em breve nos mandarei Timóteo... Porque a ninguém tenho de igual sentimento que sinceramente cuide do vosso estado." (Filipenses 2:19,20).
Autor da carta aos Hebreus
Também ele enfatiza este princípio, descrevendo assim os pastores: "... porque velam por vossas almas, como aqueles que hão-de dar conta delas, para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil." (Hebreus 13:17).
Em conclusão desta breve meditação, lembremos o hino 283, de "Cânticos de Alegria":
O PASTOR E AS OVELHAS
1- Ama o pastor as ovelhas
Com um amor paternal
Ama o pastor seu rebanho
Com um amor sem igual;
Ama o pastor ainda outras,
Que desgarradas estão,
E comovido as procura,
Por onde quer que elas vão.
CORO
Pelos desertos errantes
Vêem-se a sofrer pena mil.
Ele ao achá-las, nos ombros
Leva-as ditoso ao redil.
2- Ama o pastor seus cordeiros,
Com inefável amor,
Aos que às vezes, perdidos,
Gemendo se ouvem de dor.
Vede o pastor comovido,
Pelas colinas vagar,
E os cordeiros nos ombros,
Vede-o levando ao lugar.
3- Ama as noventa e nove,
Que no redil abrigou;
Ama a que, desgarrada
No campo de desviou;
Ó minha ovelha perdida!
Clama o dolente pastor;
Quem irá em tua ajuda,
Para salvá-la, Senhor?
4- São delicados Teus pastos,
Mui quietas Tuas águas são;
Eis-nos aqui, o bom Mestre,
Dá-nos veraz direcção,
Faz-nos obreiros zelosos,
Enche-nos de santo amor,
Pelas ovelhas perdidas
Do Teu redil, bom Pastor.
Cordiais saudações deste velho pastor, (com 82 anos), que vos saúda com muito amor.
Miguel Francisco Coias