domingo, fevereiro 21, 2010

Edição Especial sobre a obra Missionária em Timor

A Obra Missionária em Timor, relembrada pelo Pr. Miguel Coias

Estávamos em 1969, servindo o Senhor em Coimbra, em cooperação com o saudoso e amado pastor José Pessoa, quando chegou até nós um clamor desde o longínquo Timor: "Passa a Timor e ajuda-nos" (Actos16:9).


Era um pequeno grupo de crentes que se reuniam na casa do pastor timorense José Gomes para cultuar ao Senhor, na cidade de Díli – Timor e pediam ajuda. "E era-lhe necessário passar "por Timor"”(João 4:4).


Um dia, enquanto caminhava em Lisboa, pensava na nossa hipotética ida para Timor. Ao passar pela muito conhecida e concorrida Rua Morais Soares, vi uma folha dobrada que era levada pelo vento. Corri a apanhá-la. Porquê? Depois entendi: era uma página solta, possivelmente de algum livro de geografia, onde só se falava de Timor: a população, a paisagem, o clima… Ainda tenho essa folha em meu poder. Não esqueçamos que Deus nos fala de muitas maneiras (Hebreus1:1).


À chegada a Timor, de avião, quando já sobrevoávamos as aldeias de palhotas feitas de palapa, rodeadas de vegetação, observava lá de cima com alegria e curiosidade. De facto, não era a primeira vez que as via. Disse à minha mulher: “Eu já vi estas aldeias, em sonhos, quando ainda estávamos em Coimbra.”


Quando Deus nos chamou para Timor, e lá chegámos em Maio de 1969, não poderíamos imaginar o que Deus tinha para fazer ali.


Não tínhamos dúvidas da chamada, que foi confirmada em nosso coração de muitas maneiras, e nem a morte inesperada do nosso filho veio quebrar essa confirmação.


Ali encontrámos um pequeno número de crentes e o dedicado casal, pastor José Augusto Seabra Gomes e a sua esposa, irmã Fátima Gomes, que foram os grandes companheiros e conselheiros no nosso tempo e os continuadores da obra de Deus.


Ainda no nosso tempo, em 1970, o pastor Gomes, embora com alguma limitação física como resultado do acidente em que faleceu o nosso filho, foi com a sua esposa e os filhos menores para ilha em frente a Timor, Ataúro, onde já havia algum conhecimento da palavra de Deus. Ali a população havia sido evangelizada por missionários indonésios, há muitos anos atrás, mais tarde expulsos pelas autoridades portuguesas que apenas favoreciam o catolicismo. Alguns irmãos de Ataúro ainda tinham no corpo as marcas dos maus tratos infligidos nessa altura por serem crentes.


A ilha foi visitada por mim e pelo pastor Gomes e esposa logo após a nossa chegada, e eles sentiram o desejo de se mudar para lá e evangelizar e ensinar aquele povo. Nessa altura, a ilha de Ataúro era um lugar de extrema pobreza e doenças de toda a espécie, incluindo tuberculose e lepra. O casal Gomes tinha planeado mudar-se para lá no dia 28 de Agosto de 1969. Porém, dois dias antes aconteceu o acidente já referido que o deixou em coma por duas semanas, e parcialmente paralisado.


Contudo, o plano de Deus não foi mudado, e assim que se recuperou milagrosamente, partiram para Ataúro. Aí começou o milagre de mudança que deu àquela ilha uma nova vida, espiritual e económica, difícil de imaginar-se possível. Anos depois, um jornalista português chamaria a Ataúro o jardim do Éden.


No nosso tempo, abrimos lugares de culto na periferia de Díli e em alguns lugares do interior onde já havia interesse pela Palavra de Deus. Construímos um templo em Díli, e algumas casas de palapa, provisórias, para celebrar os cultos. Nesses lugares convidávamos quem precisasse de tratamento para as muitas feridas expostas e esse meio de ajuda trouxe famílias que vieram a aceitar o Evangelho. Houve muitas conversões e muitos novos irmãos foram baptizados.


Clique aqui para ver fotos do nosso tempo missionária em Timor.


O pastor Virgílio Condeço e a sua esposa Maria Condeço, que nos foram substituir em Janeiro de1974, tiveram um ministério de apenas 8 meses, pois a guerra forçou-os a sair inesperadamente.


Recentemente a Irmã Fátima foi homenageada pelo presidente do Governo de Timor, Dr.Ramos Horta pelo seu trabalho em Ataúro e Timor. Na cerimónia foi enfatizada sua obra: como ela tratou dos doentes, ensinou costura às mulheres e também nutrição e cuidados com as crianças, aconselhou as famílias e como tudo isso se reflectiu na vida do povo.


Quando em 1993 visitámos Timor e Ataúro, ficámos maravilhados por ver o resultado da dedicação do casal Gomes, e as novas casas de oração e os novos obreiros dedicados, levando em frente o grande ministério. Hoje há em Timor 122 obreiros, número que inclui pastores consagrados, diáconos e cooperadores, 64 casas de oração, umas de construção definitiva outras de construção provisória, e 12.000 crentes, por toda a ilha.


Da cadeira de rodas em que ficou confinado por muitos anos até ao seu falecimento, o pastor José Gomes ensinou os obreiros, e construiu um alicerce espiritual de valor incalculável.


Na nossa visita de um mês, em Julho de 1993, tivemos um tempo de Escola Bíblica, com todos os obreiros, que se podem ver nas fotos que vamos expôr nesta Folha Solta.


O Governador de Timor na altura da nossa visita, lembrava-se de nós e pôs ao nosso dispôr um jipe e um helicóptero para as deslocações ao interior da ilha de Timor e no Atáúro. Fez ainda questão de nos receber numa visita ao seu escritório, no Palácio do Governo.


Clique aqui para ver fotos da nossa visita a Timor em 1993.


É de grande conforto pensar que Deus, na Sua bondade, permitiu usar-nos como participantes de uma tão grande obra.


A Deus toda a glória!!!


Miguel Coias



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